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terça-feira, 13 de março de 2012

Do avesso

Acordou de ponta de cabeça para viver mais um dia do avesso. O galo eletrônico trazia a lembrança do dia novo que chega sem dar bom dia.

 

Enquanto a cafeteira jogava para fora o café, olhou para as unhas pintadas de esmalte descascado. Mas, afinal, por que mesmo suas unhas precisavam estar sempre bem pintadas, lixadas e sorrindo?

 

Nunca gostou de nada pré-formatado, da folha A4 com fonte 12, Arial e espaçamento 1,5. Nem entendia as regras que a sociedade lhe fazia engolir para não ser olhada de canto de olho, ouvir burburinhos e risinhos quando passava.

 

Desceu as escadas porque no elevador era preciso levar a simpatia a tiracolo. Sua cara trazia estampada o sorriso mal-humorado de quem não entende o horário comercial, aquele que lhe impõe a hora de acordar, a hora de dormir, quando pode viver e quando deve, simplesmente, sobreviver.

 

Com o girar dos ponteiros sua cara ia melhorando aos poucos, junto com cada bocejo disfarçado por trás da mão. Ah, sim, viu as unhas novamente. Resolveria isso quando chegasse em casa, ou não.

 

Cortou as unhas sem dispensar a ideia dos pulsos. Mas não, era viva demais para isso.

 

Riscou mais um dia do calendário. Enfim, era a hora do sono.

 

Agarrou o travesseiro e o urso de pelúcia. Adormeceu ao som da sitcom do momento. Sonhou que assassinava o galo eletrônico. E assim sorriu sinceramente, pela primeira vez nas últimas 24 horas.

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