Ela acelerava os passos.
Os passos atrás dela aceleravam também.
Estava mais atrasada do que de costume. O atraso era diário e fazia parte da rotina, mas nesse dia estava exagerado. Fazia muito frio e o inverno nem tinha chegado no sul. O sol, que já deveria estar ali, estava preguiçoso e resolveu deixá-la sozinha.
Esses já eram os combustíveis para seus passos naquela gélida amanhã.
Sua pressa a fez ir por outro caminho, um pouco mais curto, talvez assim recuperasse os minutos que havia perdido na cama.
Concentrou-se em seus passos. Porém percebeu que não eram os únicos. Aqueles passos atrás dela começaram a se aproximar.
Amor, lê e depois me diz o que achou:
Ela acelerava os passos.
Os passos atrás dela aceleravam também.
Ela visualizou o ponto de ônibus. Apertou os passos dentro da bota apertada para se distanciar.
Mas percebia que a pessoa atrás dela se aproximava cada vez mais.
Começou a suar, seu coração acelerou, o ponto de ônibus que nunca chegava.
Enfim, chegou antes do ônibus e antes daqueles passos acelerados atrás dela.
Sentada naquele banco gelado, ainda ofegante, reparava naquela pessoa que estava atrás dela há alguns minutos atrás.
Pensava e não entendia. Afinal, por que inventaram a regra social que institui que,se você encontra um vizinho fazendo o mesmo trajeto que o seu, deve conversar com ele amigavelmente?
Às 7 da manhã ela não conseguia nem conversar consigo mesma, imagina com outra pessoa. Foi necessário acelerar muitos passos para escapar desse bate-papo matinal e um sorriso amarelo como quem diz "nossa, você estava atrás de mim, nem tinha reparado".
Nesse instante, o ônibus chegou.
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